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    Extrema direita na Romênia: a porta de entrada para a influência russa Anna Luiza Fagundes Recentemente, a Romênia passou por um conturbado processo eleitoral que resultou na eleição do centrista Nicușor Dan (CNN Brasil, 2025). Antes da definição do novo presidente, em novembro de 2024, o líder de extrema direita, Calin Georgescu, venceu o primeiro turno das eleições presidenciais, contrariando as pesquisas de intenção de voto, que lhe atribuíam apenas 5% da preferência do eleitorado (Henley, 2025). Contudo, às vésperas do segundo turno, o Tribunal Constitucional anulou o escrutínio anterior e, posteriormente, impediu Georgescu de concorrer novamente, com base em documentos de inteligência desclassificados que apontavam financiamento ilegal e interferência russa em sua campanha (Verseck, 2025). Tais relatórios revelam mais de 85 mil ataques cibernéticos ao sistema de computadores eleitoral, além da amplificação de conteúdo por contas anteriormente inativas no TikTok e do pagamento de influenciadores digitais para promover a candidatura (Henley, 2025).  Mais precisamente, a ascensão da extrema direita na Romênia tem se apoiado em um discurso anti-establishment, anti-OTAN e pró-Rússia, sustentado por um nacionalismo cristão e pela disseminação de teorias da conspiração. Essa retórica encontrou ressonância em uma sociedade marcada pela desigualdade, pela fragilidade institucional e pela descrença generalizada na capacidade de transformação por parte da classe política tradicional (Rainsford, 2024). Embora a população romena se oponha majoritariamente às ambições russas — o que exige cautela na manifestação de apoio explícito a Vladimir Putin pelos candidatos —, o conteúdo promovido por esses grupos têm mobilizado ressentimentos sociais, impulsionando a oposição à ajuda à Ucrânia e à presença da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) no país (Anghel, 2024).  No plano internacional, observa-se uma intensificação das tentativas russas de interferência em países que compunham a antiga esfera soviética. Nesse sentido, a potência eurasiática tem instrumentalizado, com relativo sucesso, o descontentamento popular para promover seus interesses estratégicos na Romênia. Apesar das negações oficiais do governo russo (Cole, 2024), as denúncias ganham plausibilidade diante dos antecedentes de Moscou em manipulações eleitorais, como observado na Geórgia e na Moldávia (Sheinberg, 2025).  A partir da conjuntura descrita, pretende-se analisar de que maneira a Rússia tem se aproveitado da instabilidade social na Romênia para avançar seus objetivos políticos e de segurança na região. Para tanto, será essencial compreender as razões pelas quais plataformas de extrema direita, instrumentalizadas pelo Kremlin, têm conquistado crescente protagonismo na política doméstica romena.    A revolta dos ressentidos Para explicar a adesão das classes socialmente mais desfavorecidas a movimentos de extrema direita, o professor Jessé Souza propõe a noção da “síndrome do Coringa”. Segundo ele, trata-se de um fenômeno no qual “o cidadão empobrecido e que não conhece as causas de seu sofrimento” (Souza, 2024, p. 15) acaba se identificando com discursos extremistas que, embora aparentemente contestatórios, favorecem as elites. Essa adesão se dá pela construção social de uma “fantasia” em torno das origens e das causas de desigualdades, uma vez que as plataformas de extrema direita instrumentalizam as insatisfações causadas pelo capitalismo e as direcionam a inimigos fabricados — como imigrantes, comunistas, ou o que melhor convier na realidade nacional — que seriam, nessa concepção, constantemente favorecidos pelos grupos detentores do aparato estatal. Conforme afirma o autor, “os Coringas do mundo atual e seu sofrimento são a matéria-prima essencial para a falsa rebelião da extrema direita no mundo todo” (Souza, 2024, p. 19).  Nesse contexto, as apurações eleitorais da Romênia evidenciam um esgotamento por parte da população em relação à política tradicional, vigente desde a queda do regime soviético. O voto, nesse caso, expressa frustrações acumuladas e ressentimentos contra o sistema, ou establishment (Henley, 2025). Isso ocorre porque o país apresenta baixos níveis de renda familiar, inflação elevada, alta proporção da população em risco de pobreza, precariedade dos serviços públicos e profundas desigualdades socioeconômicas, problemas atribuídos aos governos anteriores. Soma-se a esses fatores o descontentamento com a ajuda militar, financeira e humanitária prestada à Ucrânia, que passou a representar mais um canal de expressão das insatisfações populares (Henley, 2025). Desde 2022, o Estado romeno tem fornecido equipamentos militares, facilitado a exportação de grãos ucranianos por meio de seus portos, abastecido o país com eletricidade e combustível, além de ter sediado o treinamento de pilotos ucranianos em caças F-16 (Mukhina, 2025). Essas ações têm sido percebidas como extremamente onerosas por parcela da população.  Aproveitando-se desse cenário, Georgescu foi capaz de capturar e vocalizar o sentimento coletivo de desalento. Após votar, o presidenciável publicou nas redes sociais que sua candidatura era “por aqueles que sentem que não importam, mas que, na verdade, são os que mais importam” (Henley, 2024), recorrendo à retórica populista clássica da oposição entre “nós” e “eles” — um recurso eficiente de mobilização popular. Por meio das redes sociais, o candidato construiu sua imagem como a solução para os dilemas enfrentados pelas massas, projetando-se como um líder forte, capaz de oferecer estabilidade em meio à incerteza (Henley, 2025).  O crescimento inesperado de sua popularidade, somado à exaustão da sociedade em relação aos partidos que historicamente dominaram o cenário político romeno, desencadeou uma forte reação popular à decisão do Tribunal Constitucional, que o tornou inelegível. Protestos violentos e manifestações de apoio ao candidato se multiplicaram em diversas regiões do país (Al Jazeera, 2025). Todo esse cenário traz à tona o desgaste do modelo de democracia liberal, o qual tem se mostrado incapaz de solucionar, de forma eficaz, os diversos problemas sociais que assolam as classes mais vulneráveis. Retomando a analogia com o personagem Coringa, Souza caracteriza a população que adere aos projetos da extrema direita, tornando o aparato institucional do país mais frágil e vulnerável, da seguinte maneira:    Sem sindicato, sem partido confiável e sem compreender o contexto social maior no qual está inserido, por que também toda a grande imprensa foi comprada, é a violência bestial e sem direção que passa a ser a crítica possível a um mundo com poucos vencedores e muitos perdedores (Souza, 2024, p 17).    Em meio às incertezas e à fragilidade social, política e institucional, a Romênia se tornou um terreno fértil para a promoção dos interesses russos na região do Leste Europeu, especialmente por se tratar de um país próximo ao Ocidente. A dominação do cenário político por grupos clientelistas, presentes nos partidos tradicionais e na elite estabelecida, que promovem um modelo de governança irresponsável (Verseck, 2025), abriu caminho para o cenário instalado. É nesse contexto que desenvolvem-se desilusões acerca dos benefícios de integrar a OTAN e a União Europeia, na medida em que tais organizações passam a ser associadas a esse establishment visto como corrupto, que não levou nenhum benefício real à população (Colibasanu, 2024).   Nacionalismo romeno a serviço de Moscou Para compreender adequadamente como as forças políticas extremistas atuam na Romênia de forma a favorecer os interesses geopolíticos de Moscou, é essencial caracterizar os grupos e lideranças envolvidas. Calin Georgescu tem sido descrito como um teórico da conspiração, extremista de direita pró-Rússia e simpatizante do movimento fascista cristão ortodoxo “Guarda de Ferro”, ativo no período entreguerras (Verseck, 2025). Durante sua campanha, chegou a elogiar Vladimir Putin, referindo-se a ele como “um homem que ama seu país” (Henley, 2024), além de declarar que a Romênia “não estava preparada para lidar de forma independente com a diplomacia e a estratégia, e que sua melhor chance residia na ‘sabedoria russa’” (Henley, 2024).  O Ministério Público romeno o acusou de disseminar desinformação, exaltar criminosos de guerra e organizações fascistas e formar uma organização antissemita (Henley, 2025).  Após a inelegibilidade do favorito na corrida eleitoral, os votos mais radicalizados se transferiram majoritariamente para George Simion, outro candidato de extrema direita. Simion defendeu um expansionismo romeno, adotou discursos violentos contra minorias e foi acusado de manter vínculos com o serviço secreto russo, o FSB. (Verseck, 2025). Apesar de negar o envolvimento com a potência, Simion pretendia interromper a ajuda à Ucrânia, nomear Georgescu para um cargo no governo e violar deliberadamente as diretrizes da União Europeia (Starcevic, 2025). Nesse sentido, tanto Simion quanto Georgescu promovem uma retórica anti-OTAN e anti-UE, alinhada aos interesses estratégicos da Rússia, que busca enfraquecer a influência ocidental nos países do Leste Europeu. A presença de organizações ocidentais na região representa um obstáculo à retomada da esfera de influência russa sobre os antigos territórios soviéticos. Portanto, discursos que questionem ou se oponham a essa presença atendem diretamente aos objetivos de Moscou.  Outra importante fonte de preocupação apontada por analistas refere-se à decisão drástica, ainda que necessária, do Tribunal Constitucional romeno de anular o primeiro turno das eleições. Anghel (2024) destaca que uma medida de tal magnitude, tomada de forma inesperada e em momento crítico, pode aprofundar a desconfiança da população nas instituições democráticas, ao revelar sua vulnerabilidade a interferências estrangeiras hostis.  Desse modo, ações bem intencionadas, mas firmes, como a do Tribunal precisam ser cuidadosamente fundamentadas e comunicadas, pois correm o risco de serem percebidas como restritivas às liberdades democráticas. Essa problemática remete ao “paradoxo da tolerância”, conceito formulado por Karl Popper, segundo o qual uma tolerância irrestrita pode levar à eliminação da própria tolerância, ao permitir a ascensão de ideias autoritárias que, posteriormente, suprimem as liberdades (Fernandes, 2021, p. 137). Como aponta Anghel (2024), “embora o Tribunal tenha impedido que o governo romeno caísse sob a influência russa, uma solução tão opaca, drástica e inesperada pode, inadvertidamente, conduzir uma sociedade a uma profunda turbulência”.   Assim, essa reação gerou instabilidade, ampliou a polarização e levantou questionamentos sobre os limites da democracia diante de ameaças externas. Nesse cenário, torna-se imperativo lidar com o paradoxo da tolerância de forma responsável — agir com firmeza contra ameaças autoritárias, mas sem comprometer os próprios fundamentos democráticos.    Como a Rússia instrumentaliza a instabilidade romena O interesse estratégico da Rússia na Romênia decorre, primordialmente, de questões relacionadas à segurança e à manutenção de sua esfera de influência. O Kremlin busca impedir que ex-repúblicas soviéticas e países do Leste Europeu se afastem definitivamente de sua órbita, especialmente por meio de vínculos com a OTAN ou com a União Europeia. Lucas (2014) define esse contexto como uma Nova Guerra Fria, marcada por disputas mais sutis que as do passado, envolvendo elementos como capital, recursos naturais, diplomacia e propaganda. Embora reconheça a inferioridade russa em termos econômicos e militares em comparação com muitas potências ocidentais, o autor destaca que Moscou possui táticas altamente eficazes para ameaçar e subverter países menores, sobretudo os que integravam a antiga União Soviética (Lucas, 2014, p. 21).   Para isso, a Rússia recorre a métodos herdados do período soviético, conhecidos como medidas ativas e dezinformatsia — práticas de desinformação (Shultz; Godson, 1984, p. 2). Assim, Schultz e Godson afirmam que essas medidas podem incluir:   a influência sobre as políticas de outro governo, o enfraquecimento da confiança em seus líderes e instituições, a perturbação das relações entre outras nações e o descrédito e enfraquecimento de opositores governamentais e não governamentais. Isso frequentemente inclui tentativas de enganar o alvo (elites governamentais e não governamentais estrangeiras ou o público em geral) e distorcer sua percepção da realidade. (Schultz; Godson, 1984, p. 2)   Tais estratégias foram utilizadas pelo governo russo para fortalecer aliados, enfraquecer adversários e alcançar seus objetivos geopolíticos. Diante desse histórico e das táticas tradicionalmente associadas aos serviços de inteligência russos, a hipótese de interferência na eleição romena não pode ser descartada — especialmente considerando o posicionamento de Georgescu frente à Ucrânia, à OTAN e à União Europeia, bem como a discrepância entre as pesquisas eleitorais e os resultados obtidos nas urnas (Henley, 2024).  Segundo os relatórios divulgados pelo governo, Georgescu passou de uma figura pouco conhecida pelo público, à um fenômeno na rede social TikTok, em um curto período e sem despesas de campanha declaradas (Anghel, 2024). Além disso, foi sugerido que cerca de 800 contas do TikTok, criadas em 2016 por um governo estrangeiro, foram repentinamente ativadas no mês anterior à disputa eleitoral e outras 25.000 contas foram ativadas duas semanas antes do pleito (Kirby; Thorpe, 2024). A tática de promoção eleitoral também contou com o apoio de influenciadores, que teriam sido pagos para a realização de campanha, sem declaração de custos à Justiça Eleitoral.  Além da promoção indevida de um candidato potencialmente aliado aos seus interesses, Moscou obteve êxito ao contribuir para a deslegitimação da democracia romena, já fragilizada por décadas de domínio de elites políticas incapazes de responder às demandas sociais. Dessa maneira, quando a população de um Estado-alvo passa a acreditar que os processos democráticos são, por natureza, corruptos ou ilegítimos, a Rússia atinge seu objetivo de enfraquecer os pilares fundamentais da democracia (Anghel, 2024), deixando a sociedade mais suscetível à ascensão de lideranças extremistas que favoreçam a projeção de poder externo do Kremlin.  O documento de inteligência, responsável por embasar a anulação do primeiro turno eleitoral, identificou ações russas destinadas a fomentar o descontentamento popular em relação ao apoio à Ucrânia, classificando-as como parte de uma campanha de “desinformação e propaganda” (Rainsford, 2024). Essa estratégia encontra respaldo nas táticas históricas de influência estrangeira adotadas pela inteligência russa, baseadas nas medidas ativas e na difusão de desinformação, que incluem propaganda secreta, desinformação oral e escrita e agentes de influência (Shultz; Godson, 1984, p. 2), os quais, atualmente, são inseridos no ambiente digital. Como reflexo desse processo, menos de 20% da população romena passou a apoiar a continuidade da ajuda militar à Ucrânia (Sheinberg, 2025), apesar do apoio significativo prestado ao país vizinho desde o início da invasão.  Em suma, o interesse russo pelo Leste Europeu, em geral, e pela Romênia, em particular, enseja a adoção de métodos sistemáticos de manipulação da informação e interferência política. Esses mecanismos largamente empregados têm como finalidade consolidar um ambiente regional avesso às influências ocidentais e mais receptivo aos interesses geopolíticos do Kremlin.    Considerações finais Em síntese, a Rússia tem se aproveitado da instabilidade social e do avanço da extrema direita na Romênia para enfraquecer a presença ocidental e promover seus próprios interesses estratégicos. Nesse contexto, a extrema direita romena mobiliza discursos inflamados que canalizam os ressentimentos e frustrações gerados por um modelo político e econômico excludente, angariando apoio popular a um projeto que ameaça a estabilidade democrática. Esses movimentos instrumentalizam de forma eficaz as mídias sociais, supostamente impulsionadas por operações inorgânicas do serviço secreto russo, ampliando o alcance de tais discursos junto à população ressentida.  Com uma sociedade fragilizada, a Romênia tornou-se mais vulnerável à penetração de agentes populistas e à interferência estrangeira hostil. A Rússia, aproveitando a conjuntura, interferiu no processo eleitoral com medidas ativas e práticas de desinformação, buscando consolidar sua influência geopolítica em um país que, desde a dissolução da União Soviética, aproximou-se significativamente do Ocidente. Embora as instituições romenas tenham reagido ao identificar essa interferência, a continuidade do apoio à extrema direita e os questionamentos à decisão judicial colocam em xeque a legitimidade democrática do país. O caso revela uma vulnerabilidade estrutural das democracias pós-soviéticas frente a potências expansionistas como a Rússia. As democracias atuais enfrentam, portanto, o desafio de conter a ascensão de discursos antidemocráticos sem comprometer a confiança nas instituições. A conjuntura analisada exige vigilância contínua, fortalecimento institucional e educação midiática para a contenção da desinformação. O caso romeno pode não ser isolado, mas parte de uma estratégia mais ampla do Kremlin. Resta questionar: até que ponto os regimes democráticos estão preparados para enfrentar ameaças híbridas que combinam guerra de informação, influência política e exploração de fragilidades sociais?   Referências bibliográficas ANGHEL, V. Why Romania Just Canceled Its Presidential Election. Journal of Democracy, 2024. Disponível em: https://www.journalofdemocracy.org/online-exclusive/why-romania-just-canceled-its-presidential-election. Acesso em: 12 maio 2025.    COLE, D. Romanian court annuls first round of presidential election. The Guardian, [s.l], 6 dez. 2024. World. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2024/dec/06/romanian-court-annuls-first-round-of-presidential-election. Acesso em: 10 maio 2025.    COLIBASANU, A. Romanian’s Electoral Crisis: A Blueprint for Defending Democracy. Foreign Policy Research Institute, 2024. Disponível em: https://www.fpri.org/article/2024/12/romanias-electoral-crisis-a-blueprint-for-defending-democracy/. Acesso em: 24 jun. 2025.   FERNANDES, Tarsila Ribeiro Marques. Democracia defensiva: origens, conceito e aplicação prática. Revista de Informação Legislativa, v. 58, n. 230, p. 133–147, 2021.   HENLEY, J. Romania presidential elections: why is there another vote this year? The Guardian, [s.l], 30 abr. 2025. World. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2025/apr/30/romania-presidential-elections-why-is-there-another-vote-this-year. Acesso em: 10 maio 2025.    HENLEY, J. Romania presidential hopeful Călin Georgescu faces criminal investigation. The Guardian, [s.l], 26 fev. 2025. World. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2025/feb/26/romanian-prosecutors-launch-investigation-into-far-right-politician-calin-georgescu. Acesso em: 10 maio 2025.   HENLEY, J. Shock as pro-Russia independent wins first round of Romanian election. The Guardian, [s.l], 25 nov. 2024. World. Disponível em: https://www.theguardian.com/world/2024/nov/25/calin-georgescu-romania-election-hard-right-candidate. Acesso em: 10 maio 2025.   KIRBY, P.; THORPE, N. Romania's cancelled presidential election and why it matters. BBC, [s.l], 6 dez. 2024. Disponível em: https://www.bbc.com/news/articles/cx2yl2zxrq1o. Acesso em: 23 jun. 205.   LUCAS, E. The new Cold War: Putin’s threat to Russia and the West. London: Bloomsbury, 2014.   MUKHINA, O. Romania boosts defense spending, maintains Ukraine’s aid after security council meeting. Euromaidan Press, [s.l.], 29 mar. 2025. Disponível em: https://euromaidanpress.com/2025/03/29/romania-boosts-defense-spending-maintains-ukraines-aid-after-security-council-meeting/. Acesso em: 25 maio 2025.    PROTESTS erupt as Romania bars pro-Russian presidential candidate. Al Jazeera, [s.l.], 10 mar. 2025. Disponível em: https://www.aljazeera.com/gallery/2025/3/10/protests-erupt-as-romania-bars-pro-russian-presidential-candidate. Acesso em: 10 maio 2025.    RAINSFORD, S. How meddling blamed on Russia exploited real grievances in Romania. BBC News, Bucareste, 10 dez. 2024. Disponível em: https://www.bbc.com/news/articles/c20ndg1eeeno. Acesso em: 12 maio 2025.    ROMÊNIA elege presidente centrista em disputa com extrema direita. CNN Brasil, 18 maio 2025. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/romenia-elege-presidente-centrista-em-disputa-com-extrema-direita/. Acesso em: 22 maio 2025.   SHEINBERG, A. What’s at Stake in Romania’s 2025 Elections? Council on Foreign Relations, 2025. 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    A revolta na Geórgia e a instrumentalização das redes   Por Vítor Vieira Branquinho   Introdução Em fronteira com a Rússia e a Turquia, a localização da Geórgia é um fator de extrema relevância na atual conjuntura (Utiashvili, 2014). Nos últimos anos, as disputas geopolíticas se tornaram mais acentuadas, em especial desde o conflito da Ucrânia e da Rússia, e, sendo um país cotado para aderir à União Europeia, Moscou busca a parceria com a nação. Entretanto, uma parte da população georgiana é fortemente a favor da entrada do país no bloco e procura reforçar as políticas referentes a esse processo (Cantone, 2024). Em maio de 2024, um projeto de lei, conhecido por Lei dos Agentes Estrangeiros, foi aprovado e trouxe um levante de manifestações civis, sendo enxergado como um retrocesso democrático e uma ameaça à liberdade popular (CNN Brasil, 2024). Os protestos civis foram combatidos pela polícia do país, o que trouxe ainda mais reacionismo à população. Somado a esse problema, em dezembro do mesmo ano, o país adiou mais uma vez a decisão de aderir ou não à União Europeia, o que levou a mais uma onda de protestos. Tal decisão, tomada pelo parlamento georgiano, mostra um maior alinhamento às políticas pró-Rússia e um desencontro com a vontade popular do país, que é a favor da adesão (León, 2024).    No meio desses desafios políticos da política doméstica e externa, a sociedade civil se mantém ativa em suas manifestações, indo às ruas e convocando o povo a se proclamar. O fator que torna esse contexto interessante é a atuação das redes sociais, em especial os vídeos curtos do Instagram e do TikTok, na mobilização desses movimentos. Nos posts, a juventude, em grande maioria pró-União Europeia, mostra a rotina dos protestos, a preparação para as marchas e intima os outros a participarem com eles. Portanto, o intuito dessa análise é entender o embate político que levou às manifestações e a instrumentalização das redes nesses eventos, para poder, enfim, posicionar o contexto na situação geopolítica que se encontra.   O desencontro político De início, é importante conhecer a lei que desencadeou os protestos e levou à instabilidade da conjuntura atual. Aprovada por cerca de 70% dos parlamentares, a Lei dos Agentes Estrangeiros foi vista como uma controvérsia por grande parte do país (Monin, 2023). Ela consiste em que organizações cujo financiamento vindo do exterior exceda 20% devem se registrar como “agentes de influência estrangeira”, ou serão multados. De modo geral, soa como algo simples, porém a oposição comenta que tal lei foi criada semelhante a uma lei russa, utilizada majoritariamente para controlar as instituições que se abrigam no país. Ao serem colocados como agentes estrangeiros, instituições que atuam de maneira independente do governo e buscam financiamento no exterior terão mais dificuldade de se mobilizar e atuar. Entre elas, organizações não-governamentais, veículos de imprensa, centros acadêmicos e movimentos estudantis poderiam ser enquadrados. A aprovação dessa lei trouxe protestos, visto que a população enxergou que tal medida poderia afastar a adesão do país à União Europeia.   Em 2008, a Geórgia foi invadida pelo exército russo e teve parte de seu território anexado como represália à aproximação ocidental do país. Desde então, criou-se uma repulsa ao proselitismo russo e uma vontade de aproximação ao bloco europeu, o que foi representado pelas políticas da antiga presidente, Salome Zurabishvili. Para isso, em 2016, a Geórgia fez um acordo comercial com a União Europeia de uma área de comércio livre, seguido por uma aplicação para aderir ao bloco em 2022. No entanto, a trajetória que se seguiu ao pedido foi marcada por uma tragédia, já que, devido às medidas adotadas pelo país depois, o “status” em observação foi desfeito e a possibilidade de ser aceito diminuiu.   Essa realidade parece ainda mais distante com outro grande fator que se inseriu como motivo dos protestos: a eleição do novo presidente. Sendo da direita georgiana, alinhado às políticas pró-Rússia, Mikheil Kavelashvili foi escolhido pela assembleia eleitoral, diferindo dos caminhos que o país estava tomando com a antecessora. Kavelashvili traz um discurso distanciado da realidade popular - o que levanta questionamentos sobre a legitimidade da sua escolha - e se afasta da aproximação ocidental (Euronews, 2024). Em meio à diplomacia russa no leste europeu, que procura manter sua influência nos países da fronteira, a Geórgia foi a primeira nação na região a se aproximar de um sistema de democracia operado sob a influência russa (Hedlund, 2025).   Com as políticas do novo presidente, o processo de adesão à União Europeia foi suspenso, o que torna o país mais suscetível às decisões de Moscou (León, 2024). Todo esse desencontro político e popular decorre na fragilidade do país em meio às disputas geopolíticas contemporâneas. A Rússia mantém-se firme no propósito de impedir a aproximação do Ocidente de suas fronteiras, o que pode ser visto, como exemplo, na invasão da Ucrânia em 2022. Dessa maneira, ao possuir um presidente alinhado às suas políticas, a potência está mais próxima de seu objetivo geopolítico.    A revolta e a mídia Em oposição ao Georgian Dream, partido do presidente eleito, a juventude lidera os protestos, demonstrando um forte desencontro com as recentes decisões políticas relacionadas à aproximação da Rússia e um nacionalismo pró-europeu e contra a corrupção que julga atuar no país. Da aprovação da Lei dos Agentes Estrangeiros até a eleição de Kavelashvili, os jovens do país se colocaram constantemente nas ruas. Isso continuou com a decisão de suspender a adesão do país na UE, levando a mais uma série de manifestações. Desde o início, essas manifestações têm sido enfrentadas com repressão policial e uso de força, ampliando o descontentamento com o governo. Nesta última, mais de 200 manifestantes foram detidos e outros 100 foram tratados por ferimentos (Euronews, 2024).    Algo de diferencial nessas revoltas é a atuação das redes sociais. A Geórgia conta com uma juventude engajada com elas e que é capacitada a organizar manifestações para conseguir seus objetivos (Tsomaia et al., 2020). Um exemplo é o caso da manifestação “The Rappers’”, em 2017, no qual dois cantores foram presos por postarem vídeos em conflito com policiais. Foram realizadas várias manifestações, em maioria estruturadas por meio das redes sociais, e o objetivo final de soltar os prisioneiros foi alcançado. Tsomaia et al. (2020) mostra o engajamento dessa parcela da população como um fator diferencial nas conquistas políticas populares do país.    Outro exemplo está presente no suporte aos ucranianos durante a invasão russa. Skiert e Skiert-Andrzejuk (2023) mostram a mobilização dos jovens georgianos na redes sociais em apoio à atividades sociais e políticas que beneficiariam a população ucraniana. Em meio ao que os autores colocaram como a “falta da democratização na Geórgia”, a juventude, ainda assim, posiciona-se com uma proatividade ao desejo de mudança e melhora da sociedade local, o que é externalizado ao seu apoio às necessidades do país próximo.  Max Abrahams diz que desde a invasão na Ucrânia, o aplicativo vem sendo utilizado como uma ferramenta de guerra, mostrando em tempo real, aquilo que ocorre nos conflitos (Gaglioni, 2022). E não é diferente no caso da Geórgia. Foram feitos vários vídeos de jovens se arrumando para irem às manifestações, colocando as roupas típicas das revoltas, músicas famosas e convidando mais jovens para irem com eles. Esse fenômeno impulsiona o alcance das revoltas e exporta a ideia ao redor do globo, tornando explícito ao público global o que estava acontecendo no país (Tufecki, 2017). Por esse ponto de vista, foi possível mostrar a rebelião popular e a retaliação policial.   Considerações finais Logo, as disputas geopolíticas na região do Cáucaso, tendo em vista a possível entrada da Geórgia na União Europeia, foram seguidas de diversas ondas de manifestações. O país é dividido entre um povo que busca a aproximação ao Ocidente e a segurança do bloco europeu ante à influência russa e um governo que se alinha à política moscovita e retarda a entrada na união. Talvez mais do que um interesse popular ou governamental, enxerga-se o protecionismo russo da aproximação ocidental.   Por sua vez, o fenômeno das redes mostra como as guerras atuais terão mais um fator a ser considerado, inclusive no aspecto midiático. As redes sociais de vídeos curtos denotam uma realidade de informação rápida, acessível e comovente, levando os usuários a imergirem na situação. Na Geórgia, em específico, isso levou as revoltas ao conhecimento externo e as controvérsias políticas a um embate cultural. Os jovens conseguiram aumentar suas intentes por meio das redes e atraíram mais para as marchas.   Em suma, o contexto georgiano é um exemplo de um embate da sociedade civil com a burocracia estatal, permeado por um experimento digital que dinamiza as consequências dessa disputa. Enquanto é conhecida a vontade popular de adesão ao bloco europeu, a política pró-Rússia é retalhada pelas mobilizações da juventude organizadas e propagandeadas pelas redes sociais. Se o desejo popular será atendido nos próximos meses é desconhecido, contudo, o fato é que o comportamento dos jovens da Geórgia, ampliado pela mídia digital, permanecerá atuando a favor dos interesses do povo e contra aquilo que eles consideram prejudicial ao país.   Referências CANTONE, Sergio. A Geórgia pode mudar a sua sorte na UE, diz a presidente Zourabichvili à Euronews. Euronews, 4 out. 2024. 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  • Destaques

      O PET-REL tem o prazer de anunciar a publicação da Revista Petrel (ISSN 2675-777X) volume 7, número 1, edição de maio de 2025, dedicada a explorar o complexo e multifacetado tema da Crise da Democracia na América Latina. Esta edição, composta inteiramente por textos de autoria estudantil, reflete sobre os desafios atuais que ameaçam as instituições democráticas na região, trazendo à luz suas causas, consequências e possíveis caminhos para fortalecer a governança e os direitos fundamentais. Em um momento de polarização, instabilidade política e erosão da confiança nas democracias, esta coletânea busca ampliar o debate e incentivar uma reflexão crítica sobre o futuro da América Latina. Convidamos a todos a mergulhar nessas discussões, ampliando seu entendimento sobre um dos mais significativos conflitos contemporâneos. Leia a Revista Petrel hoje e junte-se a nós na reflexão sobre essas questões críticas      Apresentação - Um panorama da conjuntura atual de crise da democracia na América Latina em dezesseis análises    Daniel Jatobá (Tutor PETREL/UNB)    A sombra dos grupos armados sobre a democracia colombiana   Anna Luiza Fagundes (PETREL/UNB) e Giulia Matos Governança Híbrida: a fragilização da democracia mexicana pelo crime organizado   Bianca Pinheiro (PETREL/UNB) El populismo y la democracia en declive en América Latina: los casos del México y de la Argentina   Lenira Oliveira y Marina Morena Santos (PETREL/UNB) Para além do populismo: a estratégia de Javier Milei   Vítor Vieira Branquinho (PETREL/UNB) O Peso do Dólar: Da Intervenção Norte-Americana ao Populismo de Milei na Argentina   Luísa Beatriz Ribeiro Silva (PETREL/UNB) A Crise das Instituições Democráticas e Impactos no Brasil   Yasmin Freitas Taia (PETREL/UNB) Pós-modernidade: A era de mercantilização de narrativas políticas   Isabella Sofia Silveira A Crise da Democracia Brasileira: Entre o Bolsonarismo e o Lulopetismo   João Paulo Urbano (PETREL/UNB) Narrativas e Autoritarismo: uma análise do Governo Bukele   Gabriel M. C. Boaventura (PETREL/UNB) El Salvador e Nicarágua: dois lados da mesma moeda?   Nathália Rabelo (PETREL/UNB)  A Ascensão da Extrema Direita e a Supressão de Políticas de Gênero na América Latina   Isabelle Pacheco Rolla O que a volta de Trump pode representar para a América Latina?   Cecília Dias (PETREL/UNB)  A instabilidade da percepção democrática no Estado Plurinacional da Bolívia em 16 anos de Constituição   Carolina Bastos e Lívia Manso Organização das Nações Unidas e Venezuela: Interferências e Contribuições da ONU na Crise Democrática Venezuelana   Bárbara Luiza M. Gonçalves e Júlia Nicole R. Melo Carneiro Tensão Colômbia e Estados Unidos: a soberania Latino-americana e a integração aos BRICS+ como uma afronta ao ego estadunidense?   Kaio Lucas S. Mesquita (PETREL/UNB) e Cíntia Guimarães de Lucena Uruguay in the spotlight among Latin American democracies: a spark of hope?   Pedro Arthur L. dos S. Felipe e Ulysses Santucci Barreto Análise de conjuntura: o que é e como se faz?   Daniel Jatobá (Tutor PETREL/UNB)  

  • Análise Quinzenal

    por Kaio Lucas S. Mesquita   “No começo, pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras. Depois, pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade.” Chico Mendes.          Em março de 2025, Brasil e Japão firmaram um memorando para fortalecer cooperação sobre desenvolvimento sustentável entre os dois Estados. Assinado pela ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva, e o ministro japonês do Meio Ambiente, Keiichiro, durante visita de Estado ao Japão, essa ação busca fortalecer a cooperação técnica e financeira entre as duas nações. Alinhado ao “Acordo de Cooperação para o Desenvolvimento Sustentável” (2024) e ao “Plano de Ação (2025-2030)” da Parceria Estratégica e Global Brasil-Japão, o memorando constitui um marco diplomático cujo alcance pode transcender a esfera bilateral (Brasil, 2024a; Brasil, 2025b; Brasil, 2025c).       A reafirmação dessa parceria emerge em meio à intensificação da crise climática, onde riscos ambientais dominam o panorama de curto, médio e longo prazo (WEF, 2025). A 30ª Conferência das Partes (COP 30), a ser realizada em Belém do Pará, em 2025, é amplamente difundida pelo Brasil como uma “COP da implementação” (WWF-Brasil, 2025) e uma oportunidade vital para robustecer o multilateralismo ambiental (IISD, 2025; Brasil 2025d; WWF-Brasil, 2025). Nesse sentido, a cooperação bilateral entre Brasil e Japão — atores com histórico de protagonismo na arena ambiental global — demanda uma análise aprofundada de seu prospecto de influência sobre esse cenário crítico.       Dessa forma, o objetivo desta análise é examinar como o recente acordo espelha e catalisa os papéis históricos de Brasil e Japão como arquitetos da governança ambiental global. Com isso, explicitar de que forma essa iniciativa bilateral pode moldar a agenda e os resultados da COP 30, propondo um novo ímpeto ao multilateralismo em um momento decisivo para a ação climática. Argumenta-se que a parceria Brasil-Japão, ao reafirmar um eixo de cooperação entre um gigante do Sul Global e uma potência tecnológica do Norte Global, pode não apenas fortalecer as políticas domésticas de sustentabilidade, mas também injetar um novo dinamismo no multilateralismo ambiental. E, com isso, oferecer um modelo de cooperação pragmática capaz de influenciar positivamente as negociações e os resultados da COP 30.   Arquitetos da Governança Ambiental Global: Dualidades e Legados         As trajetórias do Brasil e do Japão na governança ambiental são marcadas por contribuições ambíguas, nas quais avanços institucionais coexistem com contradições estruturais. O Brasil desempenhou um papel central como anfitrião e articulador de conferências que foram marcos das negociações multilaterais em agenda ambiental, como a Eco-92 (1992) e a Rio+20 (2012), cruciais para consolidar o conceito de desenvolvimento sustentável na agenda internacional e para o lançamento de convenções ambientais chave (Brasil, 2011; Thuswohl, 2012). Nesse contexto, o Brasil projetou-se como uma “potência ambiental emergente” (Barros-Platiau et al., 2019), valendo-se de sua megabiodiversidade, da vastidão da Floresta Amazônica e de seus abundantes recursos hídricos (Hochstetler, 2021). Contudo, sua atuação tem sido objeto de análises críticas que apontam para um “mito climático” (Viola et al., 2019), que destaca a dissonância, em certos períodos, entre o discurso de liderança e as políticas domésticas efetivamente implementadas, particularmente no que tange ao controle do desmatamento e à expansão de atividades econômicas de alto impacto (ibid.). Essa inconsistência entre a autoimagem de vanguarda e a realidade de suas emissões e políticas internas afeta sua credibilidade e coloca em questionamento sua capacidade de liderança. Apesar disso, a relevância do Brasil na Governança Ambiental Global permanece inconteste, dada a sua proeminente relevância ecológica global.       O Japão, por sua vez, adotou uma postura pragmática reiterada. Como anfitrião do Protocolo de Kyoto, adotado em 1997, o país desempenhou um papel crucial nas negociações, buscando um acordo que ponderasse as metas de redução de emissões com os interesses de sua robusta base industrial (Kameyama, 2004). As dinâmicas internas entre seus ministérios ilustram a complexidade da formulação de sua política externa ambiental (Ibid.). Sua diplomacia ambiental destaca-se por propostas como a Iniciativa Satoyama (里山), uma abordagem que integra saberes tradicionais à conservação da biodiversidade (Embaixada do Japão, 2008), e demonstrou liderança na criação do Protocolo de Nagoya sobre Acesso e Repartição de Benefícios, adotado em 2010 e cuja implementação foi apoiada financeiramente pelo Fundo de Biodiversidade do Japão (CBD, 2017). Todavia, seu desempenho ambiental recente, embora apresente progressos, enfrenta desafios significativos na transição energética, dada sua dependência de combustíveis fósseis e a necessidade de maior ambição em suas metas de redução dos Gases de Efeito Estufa (GEE) (OECD, 2025).       Essa dualidade histórica revela lideranças não monolíticas. Ambos demonstraram capacidade de influenciar a Governança Ambiental Global — o Brasil propondo agendas e conceitos, o Japão facilitando acordos complexos. Contudo, essa liderança foi frequentemente condicionada por fatores domésticos e pela percepção de seus interesses em um sistema internacional competitivo. O pragmatismo japonês em Kyoto, por exemplo, viabilizou um acordo, mas ao custo de concessões importantes para acomodar sua indústria e a esperada, porém frustrada, participação dos EUA (Kameyama, 2004). Similarmente, o Brasil enfrenta críticas persistentes pela defasagem entre seu discurso internacional e a efetividade de suas políticas domésticas (Viola et al., 2019).       Nesse contexto, o novo acordo bilateral não deve ser visto como mera continuação de lideranças passadas, mas como uma iniciativa que pode tanto reafirmar seus potenciais construtivos quanto superar inconsistências anteriores. A efetividade dessa parceria dependerá crucialmente da capacidade de ambos os Estados de alinhar seus interesses em prol de objetivos de sustentabilidade robustos, especialmente diante da urgência imposta pela agenda da COP 30.   A Parceria Brasil-Japão para o Desenvolvimento Sustentável: Estruturas e Oportunidades Estratégicas         Em 2025, Japão e Brasil comemoram 130 anos de amizade. O acordo de cooperação firmado em maio de 2024 e reiterado em 2025 constitui um avanço institucional significativo no aprofundamento das relações bilaterais, com a capacidade de gerar impactos concretos nas políticas de sustentabilidade domésticas e dinamizar a cooperação multilateral. Suas linhas prioritárias — transição energética, bioeconomia e adaptação climática — alinham-se a uma parceria estratégica de mais cinco décadas de cooperação técnica, exemplificada por projetos como o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (PRODECER)  (Brasil, 2025b), e por parcerias ativas entre instituições como o Serviço Geológico do Brasil (SGB) e a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) em gestão de riscos e desastres (Brasil, 2024a; Brasil, 2024b;  Brasil, 2025b).       Crucialmente, o acordo não emerge de forma isolada, mas como um enquadramento no  Plano de Ação (2025-2030) da Parceria Estratégica e Global Brasil-Japão (Brasil, 2025c). Isso confere à iniciativa um quadro institucional robusto e uma perspectiva de longo prazo, alinhando-se a pilares estratégicos como Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) (Brasil, 2025b).       Na esfera doméstica, o acordo pode catalisar avanços importantes. Para o Brasil, a cooperação pode fornecer recursos financeiros, tecnológicos e expertise para a implementação do Plano Clima (Brasil, 2024c) e da Agenda Brasil+Sustentável (Brasil, 2022), beneficiando diretamente as metas de descarbonização e combate ao desmatamento. Para o Japão, a parceria oferece oportunidades para avançar em sua estratégia de Transformação Verde (GX) (OECD, 2025), diversificar suas fontes de energia limpa por meio do hidrogênio de baixo carbono e biomassa, e acessar créditos de carbono brasileiros. A cooperação pode, ainda, fomentar redes entre universidades, centros de pesquisa, ONGs e empresas de ambos os países, acelerando a inovação e a capacitação de recursos humanos.       A natureza dessa parceria bilateral, focada em interesses mútuos e capacidades complementares, constitui uma manifestação de Environmental Statecraft marcadamente pragmática. De um lado, o Brasil dispõe de vastos recursos naturais e de um imenso potencial para energias renováveis, mas necessita de investimento e tecnologia de ponta para sua plena realização (Hochstetler, 2021). De outro, o Japão, uma potência tecnológica detentora de capital, busca diversificar suas fontes energéticas para cumprir metas climáticas e garantir sua segurança (OECD, 2025). O acordo atende a essas necessidades convergentes. A lógica de benefícios mútuos transcende a cooperação puramente altruísta, alinhando-se à noção de statecraft, na qual os Estados utilizam a pauta ambiental para alcançar objetivos nacionais mais amplos (Barrett, 2003). Contudo, esse pragmatismo exige salvaguardas, como a necessidade de um monitoramento rigoroso para assegurar que os benefícios sejam distribuídos equitativamente, que a cooperação não reforce dinâmicas de dependência assimétrica e que não haja externalização de custos socioambientais.   Implicações para o Multilateralismo e a Governança Ambiental Global: entre fragmentação e inovação         Além de seus impactos bilaterais, a parceria Brasil-Japão detém o potencial de repercutir significativamente no sistema multilateral. Em um cenário adverso, marcado pela fragmentação geopolítica e por déficits de implementação (Allan, 2025; Cousin, 2025), o acordo materializa uma cooperação construtiva entre o Sul e o Norte Global, demonstrando a viabilidade do avanço bilateral em temas cruciais da agenda global.       Conforme a teoria do Environmental Statecraft (Barrett, 2003), acordos internacionais são mais eficazes quando reestruturam os incentivos estatais em favor da cooperação. A parceria Brasil-Japão, ao focar em complementaridades, pode criar tais incentivos, estimulando ambos a elevarem sua ambição climática. Com isso, pode contribuir para a eficácia comportamental dos Acordos Multilaterais Ambientais (AMAs), promovendo a adoção de novas tecnologias e práticas sustentáveis (Sand, 2016). Embora não atuem como clássicos Norm Entrepreneurs[1] (Finnemore; Sikkink, 1998 apud Chase, 2019), Brasil e Japão podem se posicionar como difusores de boas práticas, facilitando o aprendizado mútuo e a disseminação de inovações (Sand, 2016) em áreas como tecnologias de baixo carbono e repartição de benefícios da biodiversidade (Embaixada do Japão, 2008; CBD, 2017).       No plano internacional, a aliança pode fortalecer a posição de ambos em fóruns como o G20 e nas Conferências das Partes da United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC), além de inspirar a formação de “clubes de cooperação” minilaterais [2]. Notadamente, a parceria pode servir como uma plataforma para demonstrar a viabilidade de soluções para um dos principais entraves das negociações climáticas: a operacionalização dos meios de implementação — financiamento e transferência de tecnologia — (Power Shift Africa, 2025; E3G, 2025). O acordo envolve precisamente esses elementos, com o Japão aportando tecnologia e capital, e o Brasil, recursos naturais e escala de implementação.       Caso projetos concretos, inovadores e mutuamente benéficos emerjam dessa cooperação — por exemplo, no desenvolvimento de cadeias de valor para o hidrogênio verde ou na aplicação de tecnologias para a bioeconomia amazônica — poderiam servir como valiosos estudos de caso para replicação no Sistema Internacional. Tais modelos poderiam informar e enriquecer as discussões na COP 30 sobre como estruturar mecanismos de financiamento e cooperação tecnológica que sejam eficazes e equitativos. O sucesso dessa iniciativa bilateral poderia, assim, reduzir o ceticismo quanto à viabilidade da cooperação Norte-Sul e oferecer exemplos concretos para destravar negociações multilaterais, transformando o acordo em um importante ativo diplomático para a presidência brasileira da COP 30. Contudo, o desafio intrínseco reside em garantir a transparência, a replicabilidade e a escalabilidade desses modelos, evitando que se tornem arranjos exclusivos com benefícios limitados à díade.   Rumo à COP 30: O Acordo Brasil-Japão como Alavanca Diplomática         A Conferência das Partes da UNFCCC em Belém (COP 30) desponta como um momento decisivo para a agenda climática global. A presidência brasileira, ciente das expectativas internacionais, delineia um cenário onde iniciativas como o acordo Brasil-Japão adquirem particular relevância.       O Brasil manifestou a intenção de catalisar uma inflexão na ação climática, com ênfase na transição da negociação para a implementação (Brasil, 2025d). As prioridades incluem o estímulo a NDCs mais ambiciosas, o avanço no financiamento climático — destacando-se o Roteiro de Baku a Belém — e a integração sinérgica entre as agendas de clima, biodiversidade e ODS (Brasil, 2025d). A visão brasileira para a COP 30 aponta para uma transição energética justa, ordenada e equitativa, afastando-se progressivamente dos combustíveis fósseis (Observatório do Clima, 2025 36; Brasil, 2025a 35). Por sua vez, a comunidade internacional espera que a COP 30 impulsione a implementação dos resultados do primeiro Balanço Global (Global Stocktake), mobilize o financiamento necessário e resulte em um novo ciclo de NDCs alinhado à meta de reduzir o aquecimento global em 1.5°C para evitar o colapso climático (E3G, 2025). Persistem, no entanto, desafios para traduzir a retórica em compromissos concretos e atender às demandas do Sul Global por justiça climática (Power Shift Africa, 2025).       Nesse complexo cenário, o acordo Brasil-Japão pode se consolidar como um importante ativo diplomático para a presidência brasileira. Primeiramente, materializa um exemplo de cooperação Norte-Sul. Em segundo lugar, pode gerar experiências concretas em financiamento e tecnologia para serem apresentadas como propostas viáveis na COP 30, alinhadas a temas centrais como transição energética e implementação do Marco Global de Biodiversidade. A colaboração pode, assim, oferecer mecanismos para superar impasses históricos nas negociações. No tocante ao financiamento, poderia demonstrar modelos inovadores de mobilização de recursos. Quanto à transição justa, a cooperação em hidrogênio de baixo carbono e biomassa pode gerar aprendizados sobre os aspectos socioeconômicos da transição. No que se refere à ambição das NDCs, o sucesso da parceria pode encorajar ambos os países a apresentarem metas mais robustas, influenciando outros a seguirem o exemplo.       Adicionalmente, o acordo pode catalisar o engajamento de atores não estatais. Caso a cooperação bilateral inclua explicitamente a participação e os saberes de comunidades locais e povos indígenas, especialmente em projetos na Amazônia, poderá amplificar a voz desses grupos na arena climática, em linha com as prioridades da presidência brasileira (Brasil, 2025d; WWF-Brasil, 2025; Chase, 2019). Finalmente, a parceria Brasil-Japão pode ser estrategicamente alavancada pela diplomacia brasileira para construir coalizões de ambição. Em negociações caracterizadas por blocos com posições divergentes (Allan 2025; Power Shift Africa, 2025), o Brasil, como presidente, enfrenta o desafio de facilitar acordos substantivos que elevem a ambição global (Brasil, 2025d). Ao apresentar os frutos dessa parceria, o País pode atrair o interesse de outras nações, permitindo a formação de coalizões temáticas. Essa estratégia de minilateralismo catalítico pode ser uma forma eficaz de exercer uma liderança proativa, moldando os resultados ao apresentar soluções viáveis e construir alianças pragmáticas. Tal abordagem alinha-se à visão da presidência de transformar a conferência em uma “plataforma sistêmica para acelerar resultados” (Brasil, 2025a; Brasil, 2025d).   Conclusão         A análise da cooperação Brasil-Japão, à luz de seus legados e do panorama da governança ambiental, revela um prospecto significativo. A parceria, fundamentada em complementaridades estratégicas, posiciona-se como um exemplo de Environmental Statecraft pragmático. Essa cooperação pode, portanto,  influenciar a agenda e os resultados da COP 30. Tal influência pode se materializar pela demonstração de modelos funcionais de cooperação Norte-Sul — pelo fornecimento de subsídios às discussões sobre meios de implementação — e, crucialmente, pela prerrogativa do Brasil, como presidente da COP, de alavancar esta parceria para formar coalizões temáticas que impulsionem a ambição climática.       O alcance dessa colaboração, contudo, não é ilimitado. Seu potencial reside na capacidade de fortalecer políticas nacionais, promover inovação e oferecer um modelo inspirador. Efetivamente, pode constituir um ativo para a diplomacia brasileira. No entanto, o impacto real dependerá da implementação dos projetos, da magnitude dos recursos alocados e da superação de desafios burocráticos e políticos. Persiste o risco de a cooperação se tornar mais simbólica do que substantiva, ou de que interesses econômicos de curto prazo se sobreponham a uma visão de sustentabilidade transformadora. É imperativo reconhecer que uma parceria bilateral, por mais estratégica que seja, não resolverá isoladamente os desafios estruturais do multilateralismo, mas pode oferecer um impulso positivo e demonstrar caminhos viáveis.       A sustentabilidade e a efetividade de longo prazo da cooperação dependerão da manutenção do compromisso político, da participação de um leque diversificado de atores — sociedade civil, setor privado, academia — e da capacidade de gerar resultados concretos que reforcem os benefícios mútuos. A integração do acordo com planos de longo prazo, como o Plano Clima do Brasil (Brasil, 2024c) e a estratégia de Transformação Verde (GX) do Japão (OECD, 2025), será fundamental para sua perenidade.       Ressalvas persistem: o risco de simbolismo vazio, a captura por interesses setoriais e a desconexão com agendas multilaterais mais amplas exigem vigilância crítica. Todavia, em um contexto de crise policêntrica, a iniciativa destaca-se como um vetor possível — ainda que não suficiente — de renovação do multilateralismo ambiental. A perenidade do projeto demandará não apenas continuidade política, mas a integração orgânica entre diplomacia, inovação tecnológica e justiça socioambiental. É essencial que Brasil e Japão explorem ativamente como os aprendizados dessa parceria podem ser estrategicamente disseminados na arena da COP 30, contribuindo para um resultado ambicioso e eficaz no enfrentamento da crise climática global.         [1] “Norm entrepreneurs”, conforme a conceituação seminal de Finnemore e Sikkink (1998), são agentes – que podem ser indivíduos, organizações não governamentais, unidades dentro de organizações internacionais ou mesmo Estados — que, fundamentalmente insatisfeitos com as normas sociais ou políticas prevalecentes, advogam ativamente por concepções alternativas sobre o que constitui um comportamento apropriado. Eles operam a partir de “plataformas organizacionais”  e são cruciais principalmente no estágio de “emergência da norma” do ciclo de vida das normas, onde utilizam estratégias de persuasão e “framing” para mobilizar apoio e convencer uma massa crítica de atores, especialmente Estados, a adotar essas novas ideias, visando assim alterar a ordem normativa existente.      [2] O minilateralismo nas relações internacionais, conforme Wilnkins et al. (2024), é uma forma de cooperação envolvendo um pequeno grupo de Estados, geralmente entre três e nove, que se unem formal ou informalmente para promover interesses coletivos específicos. Caracteriza-se pela exclusividade, informalidade institucional e foco em questões pontuais, buscando maior agilidade e eficiência em contraste com a amplitude e os processos decisórios mais lentos do multilateralismo. Frequentemente impulsionado pelas limitações percebidas nas grandes organizações multilaterais, o minilateralismo visa oferecer soluções mais rápidas e direcionadas, embora enfrente críticas relativas à sua legitimidade, transparência e ao risco de fragmentar a ordem internacional.             Referências Bibliográficas   ALLAN, Jennifer; KOSOLAPOVA, Elena; TEMPLETON, Jessica; WAGNER, Lynn. State of Global Environmental Governance 2024. Winnipeg: International Institute for Sustainable Development (IISD), 10 mar. 2025. Disponível em:https://www.iisd.org/publications/report/state-global-environmental-governance-2024. Acesso em: 22 mai. 2025. BARRETT, Scott.Environment and Statecraft: The Strategy of Environmental Treaty‐making. Management of Environmental Quality: An International Journal, v. 14, n. 5, p. 622-623, 2003. BARROS-PLATIAU, A. F.; SØNDERGAARD, N.; PRANTL, J. 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